Prezados,
Gostaria muito que os promotores do MP-PE e o senhor Adalberto, funcionário naquela casa lesse este texto. Gostaria de ver que desculpas dariam para não proporem ações imediatas e firmes contra o descumprimento das leis de acessibilidade neste Estado.
Sempre ouvi que para a Justiça agir ela tem de ser provocada. De que outro modo mais precisa o MP para ser provocado? Será que os promotores das áreas que cuidam dos interesses, da defesa dos cidadãos com deficiência precisam, como provocação, uma representação junto à Corregedoria do MP? Será que precisam ser lembrados de que se não fizerem nada, se continuarem a fazer reuniões e reuniões, sem proporem ações em benefício das pessoas com deficiência, nós as pessoas com deficiência vamos falar na ouvidoria, vamos denunciar, fazendo uso do Protocolo Facultativo da Convenção?
Bem, precisamos de um advogado, de uma pessoa séria, estudiosa, conhecedora do direito das pessoas com deficiência e que não trabalhe para o Estado... Precisamos de um juiz justo e idôneo, que não tenha medo de julgar contra o poder das grandes empresas e do Governo, precisamos de você, sociedade e de sua indignação para lutarmos pelos direitos humanos da pessoa com deficiência. Não sei quando teremos isso, mas tenho certeza de que teremos!
Senhores promotores, nossa paciência chegou ao fim. Leiam o texto abaixo e veja que não estamos mais dispostos à defesas de meia boca!
Francisco Lima
"Excelente texto e interpretação de uma pessoa com tamanha sensibilidade que soube bem se colocar no lugar do outro e expressar bem a dor deste outro. É sobre uma de muitas situações pelas quais nós, pessoas com deficiência, no caso retratado no texto cadeirantes, vivemos em nosso dia a dia ao sair de casa e nos metemos em ambiente onde "não somos o público alvo". Somos muito ousados em incomodar e chamar a atenção nestes ambientes como faz a Luciana Marques, esta bela garota da foto minha amiga que tanto admiro. As pessoas que constroem tais ambientes como este, a boate UK PUB deve pensar que pessoas com deficiência não deve sair de casa, não podem se divertir como qualquer outra pessoa. Que precisamos é estar em ambientes feitos exclusivamente para eles, como os vários feitos por ai que dizem incluir mas na verdade segrega e nos exclui. Aqueles locais que tanto usam a palavra acessíveis, mas na verdade são adaptações feitas para promover quem fez.
A Lu, eu e vcs estamos aqui e ali para mostrar ao mundo que Nós existimos sim. E queremos ser respeitados como qualquer um cidadão, como consumidores que também somos. Como pessoas iguais a qualquer outra, apesar das diferenças.
VAMOS PRA RUA, GENTE!
PARABÉNS LU!!!
PARABÉNS Igor Leite!!!
EXTREMAMENTE GRATA A DEUS POR ELE COLOCAR EM NOSSAS VIDAS
PESSOAS COMO VC!
Esse texto precisava ser escrito. Alguns gritos de socorro são mudos.
Eu estava em uma das mais antigas e famosas boates de Recife: O UK Pub, localizada no coração de Boa Viagem e conhecida como referência em qualidade musical e atendimento ao consumidor. Era apenas mais um na multidão de mais de uma centena de pessoas quando esbarrei em Luciana. Não a conhecia e nem pude evitar o esbarrão, pois Luciana estava em uma cadeira de rodas. Instintivamente agachei-me, tentei pedir desculpas, mas minha voz ficou embargada. Ficou embargada por ter, de imediato, percebido que o show de Luciana era diferente do show de todos os demais. Enquanto os outros acompanhavam o vocalista, vibravam com o baterista e as peripécias da guitarra, Luciana via apenas o fundo de calças jeans, a traseira de sapatos e ombros de camisas sem estampa. A linha de visão de Luciana dava acesso apenas às costas frias das pessoas e o palco parecia uma ilusão distante e de som abafado.
Não sei quanto tempo fiquei abaixado. A mente se perde em momentos como esses, quando percebemos que podemos ser todos iguais, mas que vivemos em mundos diferentes, ainda que ocupando os mesmos espaços. O fato é que deveria existir um local próximo ao palco para cadeirantes. Uma demarcação no piso ao menos. Seria o lógico, o coerente, o humano, o mínimo! Procurei então o gerente, que apresentou-se apenas como Rocha. Perguntei se ele tinha conhecimento de que uma cadeirante estava na boate. Ele respondeu afirmativamente. Perguntei se tinha uma área, ou um espaço diminuto qualquer, designado no ambiente para cadeirantes terem maior visibilidade do palco. Rocha respondeu negativamente e, pior, tentou justificar da forma mais dolorosa possível - dizendo que nenhuma boate de Recife tinha área reservada a esse fim.
Em poucas palavras, com apenas duas respostas, Rocha sem querer escancarou um grave problema de acessibilidade que eu ainda não tinha percebido. Um problema do município e, arrisco dizer, de todo o Estado de Pernambuco. Talvez por isso não vejamos mais jovens cadeirantes em boates ou ambientes coletivos de lazer. Talvez por isso muitos não possam ser cadeirantes, plenos e felizes. Não era o caso de Luciana. Luciana é uma engenheira química de 31 anos. Bonita, inteligente e feliz. Participa da vida como pode. Constrói e transforma também o mundo, como cada um de nós.
A acessibilidade nesses casos é um problema político e social, necessitando de legislação municipal e estadual, além de fiscalização por parte do poder executivo. Mas é também um problema de cidadania e consciência, mormente por parte dos empresários que promovem o lazer em Pernambuco. Rocha prometeu levar a sugestão da demarcação do piso próximo ao palco ao proprietário da boate, tendo sido muito solícito. Eu prometi escrever e escancarar a realidade e o problema através da palavra escrita. Mas deixei o local com sensação de amargura, principalmente quando cruzei com um cliente que entrava na boate com uma camisa da seleção brasileira, lembrando que a copa do mundo já chegou. E chegou sozinha.
Esse texto precisava ser escrito. Mas precisa ser COMPARTILHADO e lido por aqueles que elegemos e que podem transformar realidades. Acredito na força das redes sociais. Juntos somos sempre mais fortes e podemos fazer a diferença."
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